SAUDADES DE MIM MESMO
SAUDADES
DE MIM MESMO
Antônio
Pereira Júnior
Revendo
alguns vídeos do musical “A Arca de Noé”, dá década de 80, período de minha
infância na pequena cidade de Esperança, na Paraíba, me sobreveio um sentimento
nostálgico de um tempo que não volta mais. Naquela época as músicas pras crianças eram
mais inocentes, mas belas, mas edificantes.
Saudades
de uma infância sem drogas, onde se podia brincar nas ruas empoeiradas. Onde se
podia sair sem medo de ser assaltado, atropelado, violentado. Onde se podia, de
fato, ser criança.
Naquela
época não se brincava de computador, e sim, se bola, de pião, de “enfinca”,
enfim, brincadeiras que a maioria das crianças de hoje nunca ouviram falar.
Senti
saudades de mim mesmo.
Das
brincadeiras infantis, dos velhos amigos, da escola, das professoras, da
merenda. Ah! Que saudades da merenda. Não dela em si. Mas por causa dela agente
podia se reunir pra conversar, pra rir, pra viver.
Hoje
tudo esta diferente. Cada um se fecha em seu casulo, em seu gueto particular.
Em sua solidão existencial. Escravos de si mesmos.
Ah!
Que saudades da minha infância. Sem preocupações de adultos, exceto uma: ser
feliz.
Posição
social, dinheiro, trabalho, família, feira, responsabilidades, isso era coisa
de adulto. Isso não era nossa preocupação, só nos restava apenas sonhar.
Ninguém
sabia o que seria, apenas o que era: criança.
Da
escola sinto saudades do recreio – único momento que poderíamos ser que nós éramos.
Das aulas? Não! Afinal, já esqueci praticamente tudo que estudei nesse período.
O melhor aprendizado foi à própria infância. Não as aulas, mas a vida. Passar
de ano era apenas um detalhe.
Só
se sente saudades daquilo que realmente importa e que nos fizeram felizes, nem
que seja por um breve tempo.
Que
saudades de mim mesmo. De quem eu era.
Talvez
por isso, escrevi há algum tempo a seguinte poesia:
MENINO
MORTO
Hoje eu sonhei com um menino morto,
Tão lindo... tão inocente... tão triste,
Parecia dormindo, cálido, absorto,
Num mundo dele que não mais existe.
Hoje eu sonhei com um menino morto,
De uma bela infância que não volta mais,
Que vida linda... mas que sonho torto,
E que gente triste junto às catedrais.
Hoje eu sonhei com um menino morto,
Não vai mais brincar com outros na rua,
Como barco quebrado no cais do porto,
Uma vida ceifada, mais uma alma nua.
Hoje eu sonhei com um menino morto,
Não vai saber o que é amar... não vai,
Não há mais sonhos, é um ultimato,
Que como areia nos dedos, se esvai.
Cheguei mais perto pra ver quem era,
No mundo de sonhos que se perdeu,
Contemplar na face sua última quimera,
Esse menino morto... meu Deus!... Era eu.
SOLI DEO GLORIA NUNC ET SEMPER
*
O Pr. Antônio Pereira da Costa Júnior nasceu em Esperança – PB. Faz
parte do quadro de ministros da Aliança das Igrejas Evangélicas
Congregacionais do Brasil. Palestrante e pesquisador na área de
Apologética em geral. Técnico Agrícola pela UEPB e Bacharel em teologia
pelo STEC (Seminário Teológico Evangélico Congregacional).Fez um curso
de Apologética pelo ICP (Instituto Cristão de Pesquisas). Especialista
em Teologia e História pelo SPN (Seminário Presbiteriano do Norte –
Recife – PE). Tecnólogo em Gestão Pública pela Faculdade Metodista de
São Paulo.
Contato: (81) 9251.4248
E-mail: oapologista@yahoo.com.br
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