Estão julgando o Mensalão. E eu com isso?
Por Rodrigo Ribeiro
Desde o mês de Agosto, o julgamento da
ação penal 470, que tramita no Superior Tribunal Federal, vem causando
bastante repercussão. Isto se deu a partir de uma ampla divulgação de
todos os atos deste julgamento, que trata do que se convencionou chamar
do caso “mensalão”, grande escândalo político que eclodiu entre os anos
2005 e 2006, no governo do presidente Lula, do Partido dos
Trabalhadores. Diante da amplitude deste fato jurídico-político, muitos
se envolvem, procuram debater o assunto e participar deste momento
histórico, mas outros ficam alheios a isto tudo, como se estivessem
perguntando-se: e eu com isso?
Antes de responder esta pergunta
retórica, algumas considerações precisam ser feitas: este julgamento é
sim um marco na história de nossa república. Seja pela magnitude da
engrenagem que fora revelada, seja pelo tamanho do processo, pois os
autos da AP 470 são compostos de 235 volumes e 500 apensos, somando
cerca de 50.508 folhas, com 38 réus. De fato, este momento histórico é
mais uma página importante de nossa recente democracia. No entanto,
seria ingenuidade pensar que neste julgamento, a partir de uma sentença
condenatória, seria extirpado de nossa sociedade o ranço pernicioso da
corrupção, que a moralidade reinaria em nosso processo
político-eleitoral e todos viverão felizes para sempre.
Esta ideia messiânica do julgamento,
assim como dos ministros (vide a imagem de herói que tem pairado sobre
alguns deles), não se adequa a uma leitura sincera de nossa realidade,
haja vista que a corrupção não se veste apenas de vermelho, nem usa
somente as vias abertas pelo “mensalão” para se propagar. Ela está ali,
presente em todos os poderes, nas licitações, nos concursos
fraudulentos, etc. Nós cristãos, que conhecemos o estado na da natureza
humana pós-queda, assim como o efeito ampliador que o poder costuma
causar naqueles que o possuem, não podemos seguir este caminho ilusório.
Devemos sempre nos manter alerta, sem idolatrar qualquer político,
partido ou qualquer ideologia. A nossa função profética, nos impõe uma
distância que nos permita uma avaliação crítica segura, de todos os que
governam, tanto situação e oposição, seja qual for a sua cor partidária.
Diante desta análise otimista, porém
realista, precisamos refletir o nosso papel dentro desta tela que se
desenhou: estaríamos de fora, somente contemplando, ou também somos
partícipes? Uma das causas deste esquema, além de avidez dos homens por
poder e dinheiro, se encontra no financiamento das campanhas, que dá
vazão ao caixa 2, e vários outros procedimentos ilegais. Neste instante,
devemos perceber nosso papel em todo este enredo. As campanhas caras, a
compra de voto, ou a troca deste por favores pessoais, tudo isto são
pequenas notas que por fim acabam se ampliando e formando a orquestra da
corrupção. Quando escolhemos maus representantes, por conta de
interesses ilegítimos e tão somente particulares, somos corresponsáveis
pelos atos que estes praticam. Uma ação penal com 38 réus pode parecer
algo espantoso, mas a bem da verdade, todos os que vendem o seu voto, e
traem a sua consciência no período eleitoral, deveriam figurar no polo
passivo desta ação.
Todo este julgamento deve produzir uma
profunda reflexão em nós, como eleitores, e principalmente como
cristãos. Não devemos confiar de maneira cega e idolatra em nenhum
político, e principalmente, não devemos negociar o nosso voto. Devemos
valorizá-lo, sabendo que seremos responsáveis pelos desmandos praticados
em nosso nome. Reconhecer que temos tudo haver com o “mensalão” é o
primeiro passo para construirmos uma nova visão política, pautadas em
valores elevados do Reino de Deus, que visem o bem-estar da sociedade
como um todo.
***
Rodrigo Ribeiro é graduado em Direito, escreve na UMP da Quarta e colabora com o Púlpito Cristão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário